Mãe como ‘educadora financeira’

Ser mãe também é cuidar do futuro financeiro dos filhos. Podemos usar o cenário atual brasileiro, que aponta para um superendividamento de 78,3% das famílias (Pesquisa CNC, 2023), para iniciar um novo projeto: a educação financeira das nossas crianças e dos jovens. A proposta é transformar o caos em aprendizado para toda a família. Na primeira infância, as atividades podem envolver a compreensão de valores e a noção de troca com os brinquedos, por exemplo.

 

Quando a criança entende a diferença entre os números e já sabe que 10 é ‘mais caro’ do que 5 (reais), fale abertamente sobre a importância do dinheiro. Mostre de maneira positiva o quanto ele nos proporciona coisas muito legais e importantes.


Na adolescência, é necessário ser mais didático sobre planejamento a longo prazo, conta em banco e crédito responsável. Os jovens precisam ter mais autonomia para fazer escolhas e até oportunidade de ‘errar’, mas devem estar cientes de que cartão de crédito, limite da conta e empréstimo pessoal são, hoje, grandes vilões no endividamento.

 

Ou seja, não é brincadeira, não!

 

Um bom método para ajudar seu filho a ter habilidade com dinheiro é utilizar uma mesada semanal ou mensal, que pode começar por volta dos 3 ou 4 anos de idade.

 

Assim, ele começa a administrar as próprias finanças. É importante deixar claro ‘o que a mesada cobre’ e ‘quais expectativas em relação ao dinheiro’. O valor justo depende de fatores como idade da criança,
necessidades e despesas da família.

 

Os pais precisam cumprir a palavra e não falhar nenhuma semana ou mês, além de não ‘pegarem emprestado’ esse dinheiro. A minha orientação é definir um montante que não comprometa a renda da família e que sirva de ‘exercício’ para trabalhar noções de imediatismo e recompensa.

 

Leve seu filho a internalizar as perguntas mágicas para o sucesso financeiro: ‘Eu realmente quero?’, ‘Eu preciso?’, ‘Eu posso?’. Construir um mural dos sonhos pode ser algo divertido e lúdico para fazer as crianças. Elas poderão aprender a importância de não satisfazer uma vontade imediata para realizar algo muito mais legal lá na frente (bicicleta, videogame, televisão, viagem). Portanto, a mesada não se trata de ‘dar dinheiro’ e sim oportunizar aprendizados, entre eles, sobre poupar, investir e doar; que dinheiro é um meio para realizar objetivos.

 

Esse processo de construção de uma nova mentalidade pode ser decisivo na qualidade de vida do indivíduo, levando-o a gerir seus recursos de maneira consciente, responsável e saudável na vida adulta. Deste modo, seu filho poderá compreender que é possível construir um patrimônio em longo prazo por meio de boas escolhas e dos famosos ‘juros compostos’.

 

Infelizmente, observo que muitas vezes a educação das crianças é pautada por alguns exageros, seja para tentar compensar algo de ruim que aconteceu na própria infância (‘Não vou deixar faltar nada aos meus filhos’) ou na tentativa de justificar a ausência ou falta de afetividade.

 

No entanto, estimular o consumismo pode ser tornar um hábito muito
perigoso e gerar sofrimento ao seu filho.

 

Gosto de exemplificar usando uma tirinha da personagem Mafalda – uma menina muito questionadora – liga a televisão e é bombardeada por várias mensagens: ‘Use! Compre! Beba! Coma! Prove!’. ‘O que eles pensam que nós somos?’ ‘O que nós somos?’ ‘Os malditos sabem que
ainda não sabemos’. Mãezinha, se você quer que seu filho seja bem-sucedido, precisa despertar a consciência financeira nele hoje!

 

 

Patricia Capitanio é graduada em Ciências Contábeis.

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